RICARDO SOARES: DARCY RIBEIRO E O ZAPPING AURICULAR
Nossa sociedade informatizada,veloz, atomizada, fragmentada nos submete a uma avalanche diária de informações, imagens e sons, a maioria deles dispensáveis. Informações que reforçam diariamente o equívoco em que nos encontramos. Festejam a globalização, o consumismo, o ter e não o ser. Fortalecem os dogmas dessa idiotia coletiva que nos leva para um buraco inevitável, o colapso total da civilidade, da ética, do respeito mútuo, dos recursos naturais.Por mais que tentemos ser otimistas, todos os dias, em todas as instâncias, só vemos os seres humanos conspirando contra si mesmos adotando posturas equivocadas que nos levarão ao fim. Fatalismo ? não senhoras e senhores. A saber… hoje, horas atrás, ouvindo aqui em casa fragmentos radiofônicos de uma rádio estúpida,porém com muita audiência, ouvi uma velha entrevista do escritor/pensador/político/antropólogo Darcy Ribeiro que há muitos anos defendia (com a veemência que lhe era peculiar) que devessemos olhar para as fronteiras e os caboclos amazônicos que estavam sendo dizimados pela ganância da elite da região que avançava no desmatamento, garimpos, predação total. Esses caboclos acabavam por fugir para as periferias das grandes cidades da região (como Belém do Pará) onde eram esvaziados de todos os seus valores folclóricos e culturais (como a sua fantástica culinária) e incorporados à degradante e dispersiva cultura de massas que pulula nas periferias do planeta. Estou aqui apenas a relatar o subtexto e não a fala literal de Darcy. E se assim o faço não é apenas para lamentar, mais uma vez, a ausência de pensadores e políticos corajosos como ele. É para deplorar que nenhum dos alertas feitos por Darcy ou por outros poucos foi ouvido por autoridades de qualquer jurisdição, a maioria delas mais preocupada em salvar os próprios bolsos e herdeiros do que pensar no futuro da humanidade. A Amazônia continua a ser degradada, as fronteiras agrícolas ,suas queimadas e agrotóxicos continuam aumentando, os garimpos e mineração predatória aumentam, as áreas verdes são degradadas , os indigenas incorporados à hedionda sociedade shopping center. Darcy está morto, a junção de 90 por cento dos políticos nativos não vale um dedo de sua mão e o país ( com Serra ou com Dilma, tanto faz) caminha célere na trilha idiota do desenvolvimento predatório que é criação de estradas, asfaltos mil, usinas hidrelétricas, grandes obras, incentivo ao consumo, à compra de automóveis. Educação, civilidade e sustentabilidade são os alimentos orgânicos da política. Todo mundo diz que é bom mas poucos, muito poucos adotam. E a ausência de Darcys só faz aumentar o crescimento de Ciros Gomes e outros estercos políticos do mesmo calibre. O vácuo da inteligência abre espaço pra mediocridade falante. Dá pra ser otimista assim ?
FONTE: BLOG TODO PROSA
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