BRASIL ECONÔMICO:Mentiras no currículo
O Projeto de Lei nº 6561/09, que tramita na Câmara dos Deputados, estabelece pena de dois meses a dois anos de detenção para quem inserir informações falsas no currículo para satisfazer interesse pessoal, causar danos a terceiros ou habilitar alguém a obter cargo, emprego ou qualquer outra vantagem.
Essa é uma prática mais comum do que se imagina. No ano passado, até a ministra Dilma Rousseff, candidata a presidente da República, foi acusada de ter lustrado o currículo com título acadêmico que não detém.
Nada grave como o caso de Antonio Romero Lago. Condenado como mandante de assassinato no Rio Grande do Sul em 1944, falsificou identidade e currículo, fez carreira no Ministério da Justiça e chegou a ser chefe da Censura Federal no governo militar, cargo que lhe dava o poder discricionário de proibir a exibição de qualquer filme no País. Aliás, seu nome verdadeiro era Hermelindo Ramirez Godoy.
Segundo levantamento do britânico Financial Times, uma em cada três pessoas adota a tática de fraudar currículo para se tornar mais competitiva.
Conduzida pela Control Risks Group, a pesquisa acompanhou 10 mil programas de seleção e concluiu que 34% dos candidatos mentiram no histórico profissional, enquanto 32% forjaram dados acadêmicos. Entre os flagrados, 40% buscavam cargos executivos.
Candidatos a emprego devem expressar nos currículos, de forma incisiva, sua titulação, competências, habilidades e conquistas. Há quem goste de inflar sua experiência ou certas aptidões, mas essa é uma estratégia de risco.
Mesmo que passe pela fase de seleção via currículo, poderá ser desmascarado durante a entrevista. Um dos exemplos mais comuns é o candidato colocar no currículo que tem inglês fluente, quando na realidade seu nível de domínio é apenas avançado.
Em boa parte das empresas ele será submetido a um teste e poderá passar por um vexame. Pior: poderá ser testado na prática, em um conference call, e perder o emprego.
As empresas têm mecanismos para filtrar os melhores currículos, analisando a experiência anterior do candidato, cargos que ocupou, trabalhos e projetos de que participou e as vivências que julgam relevantes.
Mentir é contraproducente, pois as empresas têm como checar as informações, muitas vezes consultando os empregadores anteriores do candidato.
É preciso saber dosar o marketing pessoal, ou seja, valorizar o que fez de importante na vida profissional e aptidões como capacidade de liderar, de se comunicar ou de ter visão estratégica do negócio. Mas o currículo deve ser coerente. Não há como dizer que tem capacidade de liderança se nunca chefiou uma equipe.
Um erro comum é elencar participações em uma enxurrada de palestras, encontros ou congressos que nada têm a ver com a vaga que se pretende conquistar. Ou querer que uma viagem de uma semana a passeio com a família em Orlando seja entendida como experiência internacional.
Esses truques aumentam o número de páginas, mas não influenciam quem vai contratar. Inflar currículo, com fraude ou informações irrelevantes, é dar tiro no pé.
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Marcelo Mariaca é presidente da Mariaca e professor da Brazilian Business School
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
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